terça-feira, 15 de junho de 2010

Histórias em quadrinhos como incentivo à leitura

Eu tenho uma posição que creio ser compartilhada por outras pessoas: histórias em quadrinhos são um incentivo à leitura. Num país onde os cidadãos não tem o hábito de ler e o número anual de livros lidos per capita é muito pequeno, as histórias em quadrinhos poderiam ser utilizadas para mudar a atual situação.

Para compreender melhor minha opinião, é preciso lembrar que atualmente o hábito da leitura concorre com o orkut, facebook, twitter, msn, jogos online, videogames e outras formas de lazer mais dinâmicos e interativos. Tudo isso consome o tempo livre e a atenção das crianças e adolescentes, o que só reduz as chances dos livros. E, como todo hábito, o prazer da leitura pode (e deve) nascer ainda na infância/adolescência. E é aí que entram as histórias em quadrinhos, com seu formato dinâmico, mesclando texto e desenhos que enchem os olhos e atraem a atenção de todos que as leem.

Você pode agora estar se perguntando: "Mas criar o hábito de ler não é papel das aulas de literatura na escola ? Então pra que ler histórias em quadrinhos que nada mais são que desenhos com texto e que não possuem qualquer valor educacional ? " Será mesmo que as HQs não tem valor educacional e são mero passatempo ? Eu penso exatamente o contrário.

Depender da escola pra criar o hábito da leitura é um ERRO, pois o ensino literário em vigor é terrível, já que OBRIGA os alunos a ler obras de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, José de Alencar, entre outros autores (em grande parte por causa dos vestibulares) e espera com isso torná-los leitores habituais. Só que ao invés disso, tal abordagem só acaba por afastar as pessoas dos livros. Confesso que li muitas obras nacionais clássicas por obrigação e tal experiência só me fez detestar ainda mais a literatura nacional e seus autores. Bom mesmo era quando podíamos escolher o livro a ser lido. Dessa forma devorei todos títulos do Luís Fernando Veríssimo que existiam na biblioteca, e gostei tanto que acabei comprando-os mais tarde.

Empurrar "goela abaixo" a literatura só afasta as crianças e adolescentes. Com certeza NÃO será assim que os livros se tornarão um hábito do brasileiro. Conheço dezenas de pessoas que não leem mais por causa da postura de leitura obrigatória imposta na adolescência. E por isso acredito que incentivar a criança a ler histórias em quadrinhos desde pequena poderá torná-la um provável leitor no futuro, pois o "trauma" da literatura escolar será superado pelo prazer obtido na leitura dos "gibis". Afinal um hábito só se cria se houver um prazer associado.

Vou usar minha história pessoal como exemplo do que defendo aqui: desde os 5 ou 6 anos de idade meu pai comprava "gibis" da Disney para me distrair. Com o tempo comecei a gostar tanto que passei a colecioná-los. Mudei depois pra Marvel, li também A Turma da Mônica, e em torno dos 24 anos (quando ainda lia Marvel) descobri a linha Vertigo numa banca próxima de casa.

A linha Vertigo pode ser vista como um mundo totalmente novo para os leitores de HQs "convencionais". Com texto mais maduro e arte excelentes fui logo fisgado. Comprei tudo que achei no país e tudo que pude importar (o que ainda me ajudou a melhorar o meu inglês). Mas depois que as opções "acabaram" fiquei com um grande vazio.

Como a maioria das HQs que lia (Sandman, Hellblazer e Livros da Magia, por exemplo) tinham como base conceitos mitológicos, folclóricos, religiosos e digamos, esotéricos, passei a ler muitos livros de mitologia, de religião, folclore e até mesmo contos clássicos da literatura fantástica e de horror. De lá pra cá minha biblioteca só aumentou: comprei nessa última década aproximadamente 100 livros (sem contar as HQs) de várias áreas distintas. Ainda detesto romances, mas adoro ler de uma maneira geral. E devo isso tudo as histórias em quadrinhos.

Ou seja, mesmo com a lembrança das "infelizes" aulas de literatura na adolescência, a paixão obtida com os quadrinhos acabou vencendo. Além disso, acabei desenvolvendo também um prazer pela escrita, e hoje mantenho dois blogs.

Então, em virtude de minha experiência própria, e em contraponto a postura de obrigatoriedade de leitura dos clássicos da literatura nacional na escola, defendo cada vez mais as HQs e incentivo todos que estão ao meu alcance a ler quadrinhos.

Pode não ser a solução definitiva, mas certamente é uma grande porta de entrada para o mundo dos livros.

2 comentários:

  1. Muito bom Marcelo Terres adorei sua ideia dos gibis. Trabalho em uma sala de leitura e lá tem muitos gibis, confesso que não dava a importância merecida a esse tipo de leitura, mas a partir de hoje, depois de você, vou indicar aos alunos. Há uma série especial para esta leitura? Na escola que trabalho há do 6º ano do E.F. ao 3ºano do E.M. Obrigada! (socorrormor@hotmail.com)

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  2. Olá.

    Até meus dez anos eu gostava muito de ler gibis da Disney. Depois desta idade, comecei a colecionar e ler Marvel (Homem Aranha, Hulk, Capitão América, etc...), pois acredito que seja nesta idade que você começa a procurar os seus heróis.

    Li esse tipo de quadrinho até quase meus 20 anos, e aí, com 24 anos descobri a Vertigo e mudei totalmente minha concepção de quadrinhos e também de literatura.

    Isso não quer dizer que eu não goste de ler até hoje um gibi da Disney ou da Turma da Mônica, pois é uma leitura leve e rápida.

    Os tempos mudam, as crianças ficam mais precoces, mas eu ainda acho que na idade que tu citou (12 aos 17, aproximadamente) o ideal ainda são os gibis de super heróis.

    []s

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